A Alegria de
ensinar – Rubem Alves. 3ª Ed. São Paulo
Mestre em
teologia, doutor em filosofia, psicanalista e professor universitário. Membro
da Academia Campinense de Letras, professor – emérito da Unicamp e cidadão
honorário de Campinas.
INTRODUÇÃO - São várias crônicas onde o autor nos leva a
refletir sobre saberes necessários à prática educativa, algumas, mostra como a
grande maioria das crianças veem a escola, fala sobre a quantidade absurda de
informações que as crianças e adolescentes não conseguem compreender por não
terem nenhuma relação com suas vidas. Faz também uma crítica aos métodos de
avaliação de aprendizagem, onde classificam os alunos pelos resultados. A
alegria de ensinar é um livro em que o seu autor, Rubem Alves, deixa claro que
ensinar é um exercício de imortalidade, que de alguma maneira continuamos a
viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pelo instrumento fascinante
da palavra, sendo que o educador é assim, não morre jamais, estando a cada dia
no pensamento daquele que ele ensinou
CAPÍTULO
1 – ENSINAR A ALEGRIA
Logo no primeiro capitulo o autor nos mostra que ser mestre é
ensinar a felicidade, embora a felicidade não seja uma disciplina de ensino.
Mas as disciplinas nada mais são que taças multiformes coloridas, que devem
estar cheias de alegrias. É preciso que aqueles que recebem, os alunos, sintam prazer
igual ao que o mestre sente ao ensinar. Se isto não acontecer, o mestre terá fracassado
na sua missão. Neste capítulo encontramos uma análise interessante sobre o prazer
de ensinar via uma metáfora do “copo cheio” que diz o seguinte: Uma vez o
professor estando repleto de conteúdo, na forma de conhecimento, este
experimentar o verdadeiro prazer de ensinar, à medida que se esvazia,
transferindo este seu conhecimento a seus alunos, e desde que, também, consiga
transmitir a estes últimos o prazer também no aprender. Este processo de
enchimento – esvaziamento completaria então os dias eliminando a tristeza de
vê-los passar sem nada poder fazer.
CAPÍTULO 2 – ESCOLA E SOFRIMENTO
Aqui
o autor descreve o martírio dos alunos que frequentam escolas onde existe o
“totalitarismo do conhecimento”, onde uma classe dominante, de professores e
administradores se impõem sobre os alunos, a classe dominada. O mote é a posse
do conhecimento, em detrimento da sabedoria, junto com a estratégia de impor
uma técnica onde o que importa é o conhecimento em si e não o significado deste
para os alunos. O autor concluir sugerindo que se pense mais em desenvolver a
alegria do aprender dentre os alunos e menos nesta postura autocrática do
“aprenda e não discuta”.
CAPÍTULO 3 – A LEI DE CHARLES BROWN
A
partir de uma tirinha do Charles Brown, descoberta em meio à “escombros de
ideias”, o autor questiona como o processo de aprendizagem é transmitido de geração
em geração, da mesma forma, sem questionamentos. Este fato, considerado um
absurdo pelo autor, soa engraçado o que justifica a tirinha. A seguir, o autor
comenta que o processo atual hermético de ensino cria um exército facilmente
controlável pelas forças econômicas, já que forma alienados, e finaliza com a
mensagem de que as informações passadas para os alunos deveriam ter aplicação
prática para não padecerem no esquecimento levando a pura perda de tempo.
CAPÍTULO
4- “BOCA DE FORNO”
Nesta
crônica o autor descreve uma teoria conspiração baseada no seguinte argumento:
histórias infantis, como “boca de forno”, onde o aspecto do absurdo, naquele
caso repetição do que “seu mestre mandar”, têm reflexo na realidade na forma de
uma crítica de seus autores ao aspecto repetitivo do modelo de aprendizagem
atualmente praticado nas nossas escolas. A partir deste ponto o autor conclui
que este aspecto repetitivo limita a capacidade criativa dos estudantes,
impedindo que estes busquem alternativas às soluções apresentadas e os limita
na busco do desconhecido.
CAPÍTULO 5 – O SAPO
O
príncipe que virou sapo e que voltou a ser príncipe. A partir de uma conhecida
estória infantil, mais uma, o autor inteligentemente articula o conceito de
esquecer para lembrar. Na medida em que o príncipe, que sabia o que é ser
príncipe, vira sapo, aprende o que ser sapo esquecendo o que é ser príncipe e
finalmente, sentindo necessidade de mudar novamente, quebra o encanto e volta a
ser um príncipe o autor metaforicamente nos mostra quão importante é esquecer
para aprender. A partir desta reflexão o autor conclui com uma discussão sobre
a importância da palavra, aprendida e esquecida, na formação do indivíduo.
CAPÍTULO 6 – SOPBRE VACAS E MOEDORES
As
crianças são como vacas, têm sonhos, são puras, mas inúteis à sociedade. Apenas
quando passam por máquinas, moedores e vestibulares respectivamente, é que
podem ser considerados socialmente aproveitáveis. Precisam morrer para serem
úteis. Assim, para cada formando existe uma criança morta, para cada bife
existe pelo menos uma vaca morta, segundo este interessante e poético argumento
do autor.
CAPÍTULO 7 – “EU, LEONARDO”
Leonardo
da Vinci e a IBM. Aquele ficou conhecido por sua liberdade de pensamento e
aquela é conhecida por sua excelência tecnológica, fortemente sedimentada no
controle da qualidade na produção de produtos, o que pressupõe controle na
qualidade do pensamento. Por esta razão, conclui o autor, Leonardo dificilmente
seria contratado pela IBM, pelo menos não o seria para trabalhar na área de
produção. O que seria ótimo, pois assim, Leonardo não teria sido podado em sua
capacidade de criar. A mensagem aqui é refletir sobre a necessidade do controle
da qualidade do pensamento como resultado do controle da qualidade da produção
e a consequente perda da capacidade de imaginar, de fugir do comum, de criar.
CAPÍTULO 8 – LAGARTAS E BORBOLETAS
Aqui
o autor resume o que foi discutido até então: transformações envolvendo
lagartas e borboletas, Leonardos e funcionários monótonos, vacas e moedores. E,
então, discute o poder da Palavra, grafado assim pelo autor, na transformação
dos corpos, dos seres racionais, já que para os irracionais isto não seria
muito eficiente. Neste ponto entra a educação, uma técnica que utiliza a
Palavra para transformar os corpos. O autor conclui, então, com a mais uma
crítica, na verdade a mesma crítica, ao modelo de ensino atual, formadores de
indivíduos utilizáveis pela sociedade para produzir de acordo com os desejos
deste último. Algo que radical, mas com certo teor de verdade.
CAPÍTULO 9 – BOLINHAS DE GUDE
Aprender
com a idade, voltar a ser criança e ser feliz, esquecer o que se aprendeu e
aprender de novo, observar a simplicidade como uma criança vê o mundo. Estas
são as mensagens desta crônica do autor. Parece-lhe que a prepotência dos
adultos, pais jovens, os impede de entender o mundo das crianças e aprender com
eles. Em vez disto, estes adultos, impõe sua verdade às crianças podando-lhes a
simplicidade. Contudo há uma esperança, a de que uma vez avôs e avós estes
adultos tenham mais uma oportunidade de aprender com seus netos.
CAPÍTULO 10 – UM CORPO COM ASAS
Nesta
crônica o autor descreve a transformação a qual somos submetidos quando
entramos em contato com a Palavra (mais uma vez grafado em maiúsculo pelo autor).
Para isto ele utiliza-se da metamorfose da lagarta para a borboleta. Neste
caso, a Palavra nos faria sair de um mundo limitado (a folha para a lagarta)
para visitar todo um universo real e imaginário (o jardim para a borboleta). As
crianças são assim, borboletas soltas e expostas a perigos, que são o preço
desta liberdade. O autor então conclui que um dia cada um de nós já foi
criança, mas preferiu como adulto deixar de sê-lo, como uma lagarta que volta a
ser borboleta, por puro medo daqueles perigos.
CAPÍTULO 11 – TUDO QUE É PESADO FLUTUA NO AR
Crônica
lúdica. Este poderia ser um outro título para este capítulo. Aqui o autor
começa seu raciocínio descrevendo um avô que observa sua neta balbuciar suas
primeiras Palavras. A seguir, percebe que sua neta não só balbucia, mas também
brinca com as Palavras. Então conclui que é nesta brincadeira, que faz a
felicidade de sua neta, que reside uma forma alternativa de ver o mundo: uma
grande brincadeira, onde perdemos tempo ao fazer coisas que nos levam a lugar
nenhum simplesmente porque estamos lá, já chegamos, pois somos felizes quando
tocamos o inexistente como nosso pensamento e, por outro lado, se apenas nos
dedicamos a fazer coisas sérias não chegaremos a lugar nenhum porque não
experimentaremos aquela felicidade. Existe um comentário final interessante
sobre o papel do professor nisto tudo: o papel de fazer com que seus alunos
brinquem com o conhecimento, faça com que o pesado flutue, e assim possam ser
mais felizes aprendendo.
CAPÍTULO 12 – AS RECEITAS
Nesta
crônica o autor discute a forma atual como as escolas ensinam seus alunos, a
qual se baseia na transmissão de um conhecimento sedimentado, um conjunto de
perguntas e respostas, em algumas situações até um senso comum. O problema,
segundo o autor, é que quando apresentamos o conhecimento desta forma e somente
desta forma limitamos o aluno na elaboração de ideias, ideias estas
fundamentais para o crescimento da nação. Assim, é preciso ensinar não só o que
se sabe, mas também o que não se sabe. É preciso não somente olhar para que se
aprendeu, algo conhecido e cristalizado, mas olhar para o futuro desconhecido,
que pode ser explorado com asas do pensamento.
CAPÍTULO 13 – ENSINAR O QUE NÃO SE SABE
Soltar
as amarras do conhecimento sedimentado, livrar se da segurança que este
conhecimento proporciona e cair no desconhecido, ousar atravessar campos nunca
antes visitados. Esta é a fórmula do aprender o que não se sabe, o que ninguém
sabe, proposta pelo autor. A exposição a este ambiente desconhecido é como
sonhar e é sonhado que fazemos ciência, é sonhando que nos livramos da
prudência dos que seguem padrões estabelecidos e assim construímos o
conhecimento.
CAPÍTULO 14- O CARRINHO
Esta
última crônica fala da arte de criar quando não se têm recursos. Como uma
criança que monta um carrinho com peças coletadas do lixo contra aquele pai
abastado que compra, com o vil metal, um carrinho última geração para seu
filho. Este último será fatalmente esquecido, enquanto o segundo, impregnado de
lembranças da infância daquela criança e fruto de ideias, geradas com amor,
será levado na lembrança para sempre. O autor conclui que o mesmo ocorre as
nossas escolas onde os educadores lembram de solicitar mais verbas e recursos e
esquecem de estimular as ideias, a criatividade, o amor pelo que se faz.
Conclusão:
A
alegria de ensinar o qual o autor deixa claro que é um exercício de
imortalidade, e que de alguma maneira continuamos a viver naqueles olhos que
aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra, sendo que desta forma o
professor não morre jamais. Este devera sempre ser o objetivo do professor,
despertar o interesse pela aprendizagem, com prazer e amor, levando os alunos a
descobrir o que jaz adormecido no seu interior, dar asas a sua imaginação,
percorrer caminhos novos, tornar-se critico, e livre para expor suas ideias e
seus pensamentos.
O ato de educar exige segurança, competência
profissional, comprometimento, generosidade e acima de tudo amor.
A alegria de ser professor é poder ensinar os alunos a
caminhar por passos firmes e seguros, e prepara-los para o desconhecido. O
mestre é aquele que consegue despertar em um ser o prazer pela a aprendizagem.
Que seduz o aluno para que ele assim aprenda.
Tópicos para discussão:
A alegria de ensinar e a pedagogia da autonomia
ü Amo
a minha profissão, por isso tento passar esse amor para meus alunos.
ü De
que forma o professor pode contagiar seus alunos a ponto de fazê-los vir para
escola por prazer e não por obrigação?
ü Como
e em que momento um professor passa a ser imortal para seus alunos?
ü O
exercício docente é comparado às dores de parto, das quais a mãe logo se
esquece devido a alegria de ver a sua criança ao nascer….
Reflexão
ü Acredito
que muita coisa pode ser mudada na pratica educativa através da interação e da
afetividade entre docentes e discentes. É comprovado por meio de vários autores
que para que a aprendizagem seja significativa, a relação entre professor e
aluno deve ser pautada em sentimentos de ternura, amor, carinho e simpatia,
fazendo com que ambos acreditem nesse vínculo adquirido e assim tornem a
construção do saber prazeroso. Também entendo e acredito que sem interação e
afetividade não acontece assimilação, pois o indivíduo precisa por meio de sua
inteligência entender a situação pela qual ele passa, para poder agir
afetivamente em acordo com o estimulo que sofre. Alguns educadores se preocupam
somente com o que o aluno precisa saber de conteúdos e se esquecem que na
maioria das vezes, sem afetividade e interação, esse de nada adiantará para a
vida do educando, pois a afetividade permeia todo processo educacional. É
através do contato amigável com o educador que se processa ou não o
aprendizado.
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